Casa Cor 2008: Ponto de Vista Ruy Ohtake

foto: Tito Oliveira

Arquiteto e Designer de móveis, responsável por mais de trezentas obras realizadas no Brasil e no exterior. Em um momento em que se fala tanto em sustentabilidade, o brasileiro Ruy Ohtake está muito a frente. Em 99, foi convidado para fazer parte do 20º Congresso da União Internacional de Arquitetos, em Pequim, ao lado de Jean Nouvel e Tadao Ando. Hoje, Ohtake fala com exclusividade para o Núcleo sobre meio ambiente e seu projeto na Casa Cor 2008 onde homenageia o mestre Oscar Niemeyer.

Núcleo de Decoração: Já pensando na Casa Cor 2009, para o senhor, qual a importância da aplicação da sustentabilidade nos produtos, uma vez que este será o tema do próximo evento?

Ruy Ohtake: Eu acho que é uma preocupação que todos nós, arquitetos e construtores, devemos ter. E essa questão da sustentabilidade começa na educação, desde o primário. Passa pelas escolas e pela atitude do profissional. Começando por evitar o desperdício e fazer com que os materiais tenham o máximo da durabilidade. Na água, por exemplo, com o reuso, os materiais industrializados, tanto pela sua origem, sua fabricação, pela saúde e pela questão social.

Núcleo: O Sr. acredita que se o trabalho começar agora, ainda é possível construir um Brasil mais consciente?

Ruy Ohtake: Acredito muito, tenho uma fé muito grande. O Brasil está a caminho de ser um grande país e um dos pilares vai ser a sustentabilidade, outra vai ser a solução das questões sociais.

Núcleo: Sobre a homenagem a Oscar Niemeyer?

Ruy Ohtake: Maravilhosa comemoração porque o mundo inteiro está prestando essa homenagem. Eu nunca vi a imprensa mundial celebrando tanto o Oscar. Isso reflete a importância mundial que ele tem. E aqui no Brasil, o carinho com que as pessoas têm comemorado: esse respeito da Casa Cor. Ele é um dos brasileiros mais significativos de toda nossa história e é um exemplo para todos nós, pela sua ousadia, sua ética, de modo que acho que nós devemos comemorar mais 100 anos de Oscar.

Núcleo: Em um país com grandes contrastes sociais, como o Brasil, o que representa a Casa Cor para o senhor?

Ruy Ohtake: Eu acho que cada profissional deve ter a posição que acha mais correta. Às vezes eu penso em fazer um projeto mais sofisticado, e às vezes fazemos projetos para uma comunidade mais carente, como é o caso da Heliópolis. Acho que nós temos que ter essa consciência muito presente, dos ajustes sociais. E cada um, na sua atividade dentro das suas possibilidades, fazer com que este Brasil seja um país enorme, para que as pessoas e a sociedade sejam mais corretas, mais justas.

Núcleo: E quanto ao evento Casa Cor?

Ruy Ohtake: A Casa Cor representa o pensamento. Eu acho que o caminho para a Casa Cor poderia ser também o projeto do design. O design é uma coisa interessante porque é uma criação do artista, designer, arquiteto que é atraído pelo desafio da reprodução industrial. É nessa reprodução industrial que vão tentar fabricar. E essa fabricação pode ser desde peças de custo muito barato ou peças super sofisticadas. Então vai depender de cada um. Acredito que a população pode adquirir. E o terceiro é fazer com que este trabalho se torne cada vez mais brasileiro. Acho que o Brasil é um país que tem uma possibilidade criativa de fazer seus interiores, seus designers. E aí é só passar a ser uma coisa internacional. Eu gostaria que fosse evitada a cópia de soluções conhecidas, européias e norte-americanas. Mas o Brasil tem já uma cultura de arquitetura de interiores, de materiais que desafiam a gente a fazer um design brasileiro.

Núcleo: O Brasil está num novo patamar do design?

Ruy Ohtake: Quase, nós temos que lutar muito, fazer essa consciência para que a gente consiga fazer do design aquilo que a arquitetura já deu o primeiro passo.

Entre as principais obras de Ruy Ohtake estão os hotéis Unique e Renaissance (SP, o Parque Ecológico do Tietê, o sistema de transporte urbano Paulistão e a sede social e cultural do São Paulo Futebol Clube). Em Brasília, o Hotel Blue Tree, o Estádio do Gama, o Brasília Shopping. No exterior, é o responsável pela embaixada brasileira em Tóquio, pelos jardins e museu da Organização dos Estados Americanos, nos Estados Unidos. Ele também assina o projeto de adequação do Estádio Cícero Pompeu de Toledo ou Morumbi para a Copa do Mundo de 2014 que será realizada no Brasil.

... Mas se as características dos projetos do nosso colega revelam tão benéfica influência, seu talento soube contê-la na escala desejada, com esse amor pela curva, pela criatividade, pelo espetáculo arquitetural que o faz um dos mais legítimos representantes da arquitetura brasileira. OSCAR NIEMEYER